CAPITULO 4 - OS MITOS E REPRESENTAÇÕES DA NAÇÃO LAICA

 

 

Estabelecer os mitos e representações constitutivos da religião civil da nação laica implica, ao mesmo tempo, um intento analítico de - para inverter Bourdieu (1997) - uma inversão da visão da di-visão.

Em primeiro lugar, devemos estabelecer que os mitos e representações produto da subdivisão do pesquisador, apresentam-se em seu caráter relacional.

Assim, por exemplo, o primeiro mito a ser estudado tem a ver com a figura emblemática de José Pedro Varela. Esta figura remete ao mito da nação igualitária - tema caro à nação laica - mas os mitos da igualdade não se reduzem à figura e à projeção do fundador da escola pública. Além disso: pode haver representações que não configurem mitos, não pelo mito “em si”, senão pela ausência relacional das mencionadas representações com outras construções míticas em questão. Tais são, para a nação laica, as representações que tem a ver com Deus e as religiões alheias à religião civil.

Embora  seja  a partir  da reflexão de Barthes sobre Saussure que podemos  considerar as representações  como sistemas de signos (Barthes, 1980:8[1]), e portanto passíveis a serem tratadas como elementos do mito, de fato, o que se tenta é manter o caráter relacional das mesmas na construção mítica. Esse caráter relacional, não tem porque se deter nas “…relaciones simultáneas de contraste” (Sahlins, 1997a:141).  Assim,

 

…la metáfora, la analogía, la abstracción, la especialización: todos los tipos de improvisaciones semánticas son inherentes a la actualización cotidiana de la cultura, con la posibilidad de hacerse generales o unánimes por su aceptación sociológica del orden vigente. (Sahlins, 1997a:11). 

 

Passemos então a um dos mitos - atualizado uma e outra vez: José Pedro Varela e o mito do igualitarismo.

   

4.1 O mito da igualdade (I) e o santo José Pedro Varela

 

Sabemos que é a partir de 1877, que o Uruguai emergente consegue desenhar e cristalizar seu primeiro modelo de ensino público, de caráter laico, gratuito e obrigatório. O decreto-lei de educação comum de 24 de agosto de 1877 atenua, porém, a exclusão do ensino religioso (Estado e Igreja Católica não tinham ainda se separado), através do Artigo 18:

”La enseñanza de la Religión Católica es obligatoria en las escuelas del Estado, exceptuándose á los alumnos que profesen otras religiones, y cuyos padres, tutores ó encargados se opongan á que la reciban” (Decreto- Ley de Educación Común, apud Araujo, 1911:677) .

 A figura de José Pedro Varela foi, sem dúvida, fundamental neste processo de implementação e de ordenamento do sistema escolar, ao mesmo tempo que se configurou um dos dinamizadores do laicismo no mencionado âmbito.

Com certas modificações, o Poder Executivo coleta as propostas Varelianas, por meio do decreto-lei citado (24 de agosto de 1877), iniciando-se a denominada “Reforma escolar”, que contará com amigos e inimigos. Segundo a Araújo: “El mismo día el Gobierno expedía un decreto nombrando Inspector Nacional de Educación Pública al ciudadano don José Pedro Varela.” (Araujo, 1911:444)[2].

Dado o seu caráter laico - embora atenuado no começo - a Reforma e seu principal mentor, José Pedro Varela, contaram com um claro adversário; a Igreja Católica.

Orestes Araújo, escritor da primeira História da Escola Uruguaia (1911) e texto usado para a formação de professores primários (por conseguinte parte do exercício mitoprático) faz o relato das tensões entre a Reforma e a Igreja Católica da seguinte maneira:

 

 Pero el adversario más implacable que tuvo la Ley de Educación Común fue el partido católico, que no perdonó nunca a Varela el carácter racional impuesto á la educación que se daba en las escuelas del Estado, pues comprendía sin dificultad que 20,000 niños que á ellas concurrían serían más tarde otros tantos ciudadanos substraídos al fanatismo y la superstición, en virtud de que los nuevos métodos de enseñanza  tendían á hacer de ellos seres instruidos, conscientes de sus deberes y derechos , y educados para la libertad en su más alta expresión. De ahí que pretendiensen asustar á los timoratos gritando: ¡Educación ateas! ¡Escuela sin Dios!, y combatiendo la reforma escolar con toda clase de armas, desde la cátedra sagrada y desde la prensa, sin querer discutir ni razonar. Así arrastraban á los medrosos, á los ignorantes, á los infelices, á las gentes poco versadas en asuntos de educación, consiguiendo aumentar el número de los tarugos vocingleros. (Araujo, 1911:454). 

 

É assim que José Pedro Varela, inquebrantável no seu trabalho de difundir a escola laica, gratuita e obrigatória, deve enfrentar um conjunto de oposições levantadas em torno ao seu projeto.

Varela, o educador incansável, morrerá jovem na plenitude de suas funções, no sacrifício da causa que defendia.

Assim, Araújo dedicará na mencionada História da Escola Uruguaia, um capítulo de título: “Muerte y Apoteosis de Varela” :

 

 José Pedro Varela contrajo en el ejercicio de su ministerio una terrible enfermedad que lo tuvo postrado varios meses en cama hasta que concluyó con su vida el 24 de Octubre de 1879, muriendo á la temprana edad de treinta y cuatro años, cuando era uno de los ciudadanos más útiles para su país, uno de los caracteres más honrados de su generación y una de las esperanzas más sólidas para el porvenir. (Araújo, 1911:462).

 

O exercício processual mitoprático continua, sob a luta de nominações. Assim como o batllismo, como já indicamos, muda o nome de povoados católicos, o Estado fará o mesmo com a nomeação das escolas após a  morte de Varela:

 

 El Gobierno del General Santos, á su vez, expedía un decreto suprimiendo los nombres con que se designaban las escuelas públicas, y disponiendo que únicamente las dos superiores ó de tercer grado lo llevasen: la N.º 1 que se denominaría General José G. Artigas en honor al fundador de la nacionalidad oriental, y la Nº 2 que se llamaría José Pedro Varela, en memoria del reformador de la educación popular. (Araújo, 1911:465).

 

Por seu turno, Jacobo Varela, irmão de José Pedro e segundo Inspetor Nacional da Educação Pública,

 

…a poco de morir José Pedro - su hermano manda a distribuir en todas las escuelas del país 245 retratos (que aún subsisten) los que, junto aquellos textos escolares, han funcionado como elemento casi religioso de un rito laico: la imagen sagrada y la oración. (Bralich, 1996:73).

 

 

Este conjunto de acontecimentos descritos configuram, por sua vez, uma construção mítica processual. Tomam-se “restos de acontecimentos” da vida e obra de Varela para constitui-los em acontecimentos definitivos, num antes e um depois. Justamente, o caráter mítico fundacional

 

… se constituye siempre desde un tiempo posterior al tiempo histórico en que se supone se realizó el mencionado esfuerzo, ya que lo fundacional es caracterizado como tal por las generaciones posteriores al proceder a construir o reconstruir el pasado y ubicar en el pasado… (Achugar,1998:17).

 

Mas a mito-práxis exige que o passado retorne e reconstrua o presente.

 A fundação sempre deve de ser atualizada, contando com graus de continuidade e discontinuidade. O mito da igualdade - egrégia figura da religião civil uruguaia - deve  beber sempre de  suas fontes e por outro lado, “naturalizar” essas fontes.

A figura prometéica do herói cultural - Varela - atribui a um conjunto de qualidades do herói as possibilidades de fundação (a Reforma Escolar), com o qual o efeito de naturalização vai via a excepcionalidade do herói em questão, sua capacidade de sacrifício, sua luta contra os inimigos de uma causa nobre e seu amor pelos beneficiários da nova escola.

Desta forma, José H. Figueira, traçava o retrato de Varela na lição 102 do seu livro terceiro de leitura “Un buen amigo”:

 

 

 

Lección 102.

 

El 24 de octubre es el aniversario de la muerte de José P. Varela.

 

En ese día las escuelas no funcionan, y la bandera nacional se pone á media asta, en señal de duelo.

 

¿Sabéis por qué se hace esto?

 

Porque José Pedro Varela reformó la escuela, haciendo el estudio más agradable y permitiendo que todos, pobres y ricos, blancos y negros, puedan aprender lo que más necesita saber el hombre.

 

José Pedro Varela nos quería mucho.

 

Él ha trabajado por nuestra felicidad y la de nuestro país.

Por esto los uruguayos, agradecidos, respetamos su memoria y colocamos su nombre en la lista de los bienhechores de la patria.

 

Gratitud, eterno amor

Al que reformó la escuela;

gratitud hacia Varela,

nuestro grande bienhechor.

(Figueira, 1902:262).

 

Esta apresentação ilustra vários aspectos da religião civil uruguaia. A escola fica indissoluvelmente ligada à nação (pátria) na qual todos se encontram incluídos:

 

Porque José Pedro Varela reformó la escuela, haciendo el estudio más agradable,  y  permitiendo que todos, pobres y ricos, blancos y negros, puedan aprender lo que más necesita el hombre.” (Id.Ibid.).

 

A escola  veste-se  de luto nos dias 24 de outubro, lembrando o aniversário da morte de Varela e a bandeira uruguaia à meia haste, visto que “Él ha trabajado por nuestra felicidad y la de nuestro país” (Id.Ibid.), do qual deve desprender- se gratidão e amor eterno da nossa parte.

Na quinta edição do livro segundo de leitura, “¡Adelante!”, José H. Figueira, na lição 71, que leva por título “José Pedro Varela”, inventa-se um sujeito de enunciação - o escolar - que diz o seguinte:

 

Lección 71

 

José Pedro Varela

 

En mi escuela se ve suspendido de la pared el retrato de un hombre de fisonomía simpática é inteligente.

 

Es el retrato de José Pedro Varela.

 

La maestra me ha dicho que gracia á José Po. Varela, los niños pueden hoy estudiar con gusto lo que más necesitan saber.

 

Varela nos quería mucho, y trabajó hasta morir por nuestra felicidad y la de la patria.

 

Todos los uruguayos debemos agradecer el bien que nos ha hecho José Pedro Varela y respetar su memoria.

 

Por esto, el 24 de octubre, aniversario de su muerte, la escuela se mantiene cerrada y la bandera nacional se pone á media asta, en señal de duelo. (Figueira, 1904:174)

 

O esforço de Varela “…trabajó hasta morir por nuestra felicidad y la de la patria” (Id.Ibid.), o sacrifício de dar a vida pela escola, pela pátria, pelas crianças que a partir da sua denodada ação “…pueden estudiar con gusto lo que más necesitan saber” (Id.Ibid.), reafirma-se também, numa continuidade textual , numa lição do Livro quinto, quarta série, dos “Ejercicios progressivos de lectura, ortología y ortografía” de Emma Catalá de Princivalle:

 

La Maestra __¿ Niñas, saben ustedes por qué

no tendrán clase hoy?

 

Clelia__Sí, señorita; hoy es  día de duelo escolar;

es el aniversario de la muerte de José Pedro

Varela, el que está representado en ese retrato.

 

La Maestra__¿Qué les parece a Uds. ese retratro?

¿qué les dice el rostro de ese hombre cuya imagen

tienen á la vista?

 

Orfilia__Me parece un hombre enfermo y triste.

¡Qué ojos tan hundidos! ¡Qué delgado y ojeroso

está!

 

La Maestra__Cuando se hizo sacar ese retratro,

ya estaba bastante enfermo. Era un hombre

que apenas tenía treinta y cuatro años; pero

trabajaba muchísimo, dormía poco, trabajaba

noche y día, hasta que su débil naturaleza

sucumbió á tan excesiva tareas. ¿Qué  más le

dice ese retrato? Observen esa frente despeja-

da, esa mirada inteligente y penetrante a pesar

de estar ya tan enfermo

.

Dorila__Mamá me ha hablado muchas veces

de José Pedro Varela, y al hacerme observar su

retrato, me decía que era un hombre de gran

inteligencia, que sabía mucho, que con esa

mirada parecía leer el pensamiento de los demás.

Ella lo conoció, y dice que tenía un rostro hermoso,

lleno de inteligencia y de bondad; pero que en

estos retratos está muy desfigurado por la enfermedad.

La Maestra__¿Por qué está en todas las escuelas

El retrato de Varela? ¿Por qué el aniversario de su

Muerte es día de duelo escolar?

¿Por qué los padres y los maestros hablan a los

niños de José Pedro Varela?

 

Tulia__Porque Varela organizó las escuelas , hizo

nuevos programas, enseño á los maestros; y desde

entonces se aprende más y mejor en las escuelas.

              

La Maestra__Si, queridas niñas; Varela hizo

Mucho bien a la enseñanza primaria. Antes de

la reforma de Varela, en nuestras escuelas apenas

se enseñaba a leer, escribir y contar, y un poco

de geografía y gramática; todo esto de memoria,

sin explicar ni entender nada.

Los niños eran loritos que repetían lo que decían

los libros, sin entenderlo.

Varela lo cambió todo en muy poco tiempo; y hoy

No sólo se enseñan muchas cosas, sino que

Se enseñan bien; y los niños  encuentran  mucho

más fácil esta manera de aprender.

 

Varela se sentía enfermo; pero tal era el entusiasmo

que le inspiraba su obra, que trabajaba, trabajaba

sin hacer caso de su enfermedad, hasta que al fin

cayó para no levantarse más. Su obra estaba

casi terminada , y se durmió para siempre con

la satisfacción de haber hecho un gran beneficio

á la niñez de su dorada patria.

 

Varela murió el 24 de octubre de 1879; pero su

recuerdo vivirá siempre en el corazón de los

niños que se educan en las escuelas por él

reformadas , y la Patria lo contará siempre

en el número de sus hijos abnegados y grandes.(Catalá de Princivalle,1908a: 32-34) .

 

O “antes e depois”, na escola, e o “antes e depois de Varela”, constitui uma realidade palpável onde o mito atinge uma familiaridade: Varela tira a escola do caos; a nova ordem instaurada não é, porém, gratuita: os abalos na saúde, que conduzem Varela à morte, seu excesso de zelo perante o trabalho que se impôs, asseguram-lhe um aura de santidade intocável que só admite o gesto reverencial.

Na mencionada lição de Emma Catalá de Princivalle, surgem as seguintes recomendações para o professor:

 

Para esta lectura el maestro debe colocar á sus alumnos en semicírculo frente al retrato de Varela, cuidando de que todos estén derechos y circunspectos, y pidiéndoles que guarden la mayor compostura y respeto ante la imagen del hombre cuyo recuerdo merece la veneración de todos los niños que se educan en las escuelas públicas. (Catalá de Princivalle 1908a: 32) .

 

Também o gesto referencial/reverencia manifesta-se no texto de “Lecturas Suplementarias “ de Joaquín Mestre:

 

 Un deber patriótico nos tiene reunidos hoy aquí para tributar homenaje de respeto y de gratitud a la memoria venerada del ilustre oriental que hace veinte años bajó a la tumba, agobiado por el peso de sus esforzados trabajos en beneficio de los más trascendentales y permanentes intereses del país vinculados a la magna obra de la educación común cuya reforma inició y llevó muy adelante aquel atleta de las grandes ideas, que tiene su nombre grabado en el corazón de todos los dignos hijos de esta tierra, y que repiten, día a día, en cánticos de alabanza y de agradecimiento, los millares de tiernas criaturas que van a nutrirse en nuestras escuelas con la savia inagotable que abundamente fluye del árbol vigoroso que el valiente Reformador plantó y supo proteger de las tormentas que contra él furiosas se desencadenaron. (Mestre, 1914:117):

 

 

Encontramos aqui outro elemento da passagem do caos à ordem: as tempestades que teve que enfrentar o Reformador como gestor de uma transformação radical, a devoção patriótica devida, enquanto  sua morte fica vinculada diretamente a uma obra excessiva, no entanto absolutamente necessária “…los más trascendentales y permanentes intereses del país…”.

Olivet, no seu livro de “Lecturas Literarias”, do ano 1922 cita o próprio José Pedro Varela e o seu poema “A la escuela” :

 

Al cruzar por el árabe desierto

Fatigado y sediento el caminante,

Cree distinguir a veces, a lo lejos,

Las lozanas palmeras del oasis.

Y apresura su marcha; pero en vano

Sigue con paso rápido adelante,

Porque es un espejismo el que persigue,

Es un falaz y seductor miraje.

Y tú también ¡oh patria! cuántas veces

De tu existencia en el continuo oleaje.

(…)

La buscaste unas veces por la guerra;

Por la guerra de hermanos implacable,

Que siembra por doquier muerte y luto,

Y que cosecha lágrimas y sangre.

(…)

El monstruo que roía tus entrañas;

El veneno sutil que por tus venas

Secándolas corría: ¡la ignorancia!

¡La ignorancia! ¡fantasmas y tinieblas!

(…)

Venid, venid a contemplar el cuadro

Que se ofrece a la vista entusiasmada,

Y veréis como baja de los cielos

El ángel bienhechor de la esperanza.

Viene con esos niños que a millares

Como un emblema de inocencia pasan,

                Como promesa de mejor futuro,

Como prenda segura de bonanza.

Viene con los que vienen libertados

De la noche sin fin de la ignorancia;

Viene con los que fueron redimidos,

Por el santo Jordán de la enseñanza.

Son las niñas de hoy, las hijas tiernas

(…)

Son los niños de hoy, los hijos tiernos

(…)

Y son los ciudadanos de mañana,

Que en la escuela se forman a la vida…

Con ellos viene el porvenir: ¡miradlo!

El porvenir con sus brillantes galas:

¡Para los oprimidos, el consuelo!

¡Para los abatidos, la esperanza!

¡Foco inmenso de luz, astro divino

Que iluminas el cielo de la patria!

¡Fuentes de paz, de bienestar, de gloria:

Redentora del mundo, marcha, marcha!

                 (Olivet, 1922:156-158)

 

Eis aqui o programa vareliano num poema: a guerra fratricida é produto da ignorância, os escolares de hoje são os cidadãos do amanhã, a escola é “Foco inmenso(…) que iluminas el cielo de la patria!.”

A escola enquanto redentora do mundo, enquanto geradora da pátria, propicia a passagem da guerra à paz, do escolar ao cidadão, do passado escabroso ao futuro promissório.

A mito-práxis deve ser generalizada, e para isso, os mitos devem de ser generalizáveis. O mito da igualdade (ou uma das suas versões) consegue a sua eficácia através da criação sacrificial da escola, sacrifício que envolve nem mais nem menos do que seu próprio fundador, José Pedro Varela, morto por excesso de trabalho, pela sua obra estafante, pela sua defesa, obra na qual a criança torna-se cidadão, e os pobres e ricos, os brancos e pretos, transformam-se em escolares proto-cidadãos.  Do saber de hoje, aos “papagaios” de ontem. Na escola, portanto, tudo está disponível para ser aprendido.

A saturação do mito de Varela, de suas lutas, por gerar e ordenar a escola, inauguram uma continuidade semântica (e naturalizante) escola-pátria-cidadania, que vai ser matizada. Se a escola está aberta a todos, se todos devem-lhe direito (e dever, na medida em que é obrigatória), veremos também como esse igualitarismo se configura através do tratamento diferencial das diferentes alteridades.

Um aspecto no entanto, é inquestionável: Varela é parte do mito da igualdade e está à altura de qualquer épica heróica. Assim a poetisa Juana de Ibarbourou  faz  as crianças afirmarem no seu livro de leitura “Ejemplario”, na sua lição sobre os “Grandes Hombres”.

 

Este hombre –dijo Julito mostrando a sus primos el retrato de un señor de barba negra y amplia frente – es José Pedro Varela, el reformador de los métodos de enseñanza en nuestro país.

 

Eso -contestó Pepito- lo saben todos los niños del Uruguay. No hay uno solo que ignore quién fue José Pedro Varela... (Juana de Ibarbourou, 1925:61) 


 



    [1] “Acababa de leer a Saussure y, a partir de él, tuve la convicción de que si se consideraban las “representaciones colectivas” como sistemas de signos, podríamos alentar la esperanza de salir de la denuncia piadosa y dar cuenta en detalle de la mistificación que transforma la cultura pequeño-burguesa en naturaleza universal.” (Barthes, 1980:8). 

 

 

     [2] Na verdade, Varela inicia-se em uma espécie de “Pré-direção da Instrução Pública” em março de 1876. Ao nomeá-lo por decreto, em 24 de agosto de 1877, o governo assume uma situação de fato.